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Especial Enxuta - Há 30 anos, Caxias começava a viver os seus "anos dourados" no futsal

segunda-feira, 12 de janeiro de 2015

Especial Enxuta - Há 30 anos, Caxias começava a viver os seus "anos dourados" no futsal

Em 1985, o empresário Paulo Triches fundou a equipe que levava seu sobrenome, renomeada para Enxuta no ano seguinte

Há 30 anos, Caxias começava a viver os seus "anos dourados" no futsal Porthus Junior/Agencia RBS
Autor do primeiro gol do ginásio do Enxutão, o ex-jogador da Enxuta Gelson Scola lembra com saudade dos anos dourados do futsal caxienseFoto: Porthus Junior / Agencia RBS
Parte da geração que cresceu idolatrando o craque Falcão, maior nome do futsal brasileiro deste século e provavelmente também do próximo, e que no ano passado viu o ídolo treinar com a seleção brasileira talvez nem saiba que Caxias do Sul já foi a cidade por onde passaram os principais atletas do futsal brasileiro em um passado nem tão remoto. 

Em 1985, o empresário Paulo Triches fundava o clube que levava seu sobrenome _ também nome de sua empresa _, que no ano seguinte foi renomeado para Enxuta _ uma das marcas da companhia.  Foi preciso menos de uma década para empilhar títulos, atrair grandes craques e revolucionar o futebol de salão no Brasil.

— A Enxuta foi um marco no futsal da cidade, do Estado e do país. Muito em função dos investimentos e das pessoas que a fizeram. Foi o primeiro clube no Estado a estabelecer treinos em dois turnos, em uma rotina mais profissional que uma ou duas equipes no Brasil faziam. A Enxuta mostrou que, com investimento, era possível fazer futsal de qualidade — comenta Ênio Aguiar, 54 anos, que participou da Enxuta durante os dez anos do clube, como coordenador da base. 

Entre 1986 e 1996, foram seis títulos gaúchos e três nacionais (veja quadro). Uma hegemonia que até hoje rende frutos. O atual técnico da Seleção Brasileira, Serginho Schiochet, foi fixo dos áureos times da Enxuta. Jari da Rocha, o Jarico, e mais recentemente Ney Pereira também são ex-técnicos da seleção que passaram pelo time vermelho e branco.

Entre as dezenas de atletas e treinadores que entraram para a história do futsal pela Enxuta, nem todos tiveram projeção nacional ou internacional e fizeram fortuna. Mas nem por isso serão esquecidos pelo que alcançaram. 

Autor do primeiro gol do ginásio do Enxutão, em 25 abril de 1986, em um amistoso contra o Inter vencido por 9 a 1 pela Enxuta, Gelson Scola, 54, tem até placa em sua homenagem em uma parede ao lado da quadra. Ele recorda que a maior parte do primeiro grande time, campeão gaúcho de 1986, era formado por caxienses como Álvaro Tulica, Mauro Caxias, César Machado, Paulo Boff, Milton Gomes, além dele próprio e outros. 

Para Scola, que atuou até 1989 no clube, a saudade é comum a todos que participaram daqueles grandes momentos:

_ Nossa equipe virou referência, graças à visão e ao investimento do Triches. Se hoje a cidade tem cerca de 40 escolinhas de futsal e ainda forma ótimos jogadores, isso se deve em muito à influência da Enxuta. 

"Foi um período fenomenal", relembra Manoel Tobias
Craque do futsal comparável talvez apenas com o ídolo Falcão, Manoel Tobias foi contratado pela Enxuta em junho de 1994, aos 23 anos. Diz lembrar dos primeiros dias que passou em Caxias do Sul, hospedado no Hotel Alfred e vendo neve pela primeira vez na vida. Tobias, na verdade, não esqueceu de nada. É capaz de citar um por um os companheiros que atuaram a seu lado na equipe tricampeã gaúcha e bi da Taça Brasil (ele participou das conquistas estaduais de 94 e 95 e da nacional de 95).

— Foi um privilégio poder ter atuado ao lado de Jorginho, Danilo, Fininho, Serginho, Bagé. Tinha o Bela, que era o nosso iluminado, o (Fernando) Rossatto, um dos melhores preparadores físicos com quem trabalhei. Era uma equipe que nunca esmorecia, entrava sempre com a convicção de que ia ganhar _ recorda.

Tobias também destaca que o Campeonato Gaúcho de Futsal era o mais difícil do mundo no anos 90, tamanho era o protagonismo do Estado no esporte naquela época. Equipes como Itaqui, Perdigão e Lagoense eram algumas das principais forças, além das serranas Enxuta e ACBF. Hoje, aos 43 anos e vivendo em Fortaleza, onde é proprietário de uma rede de lojas de sapatos, o jogador considerado três vezes o melhor do mundo guarda com carinho da época em que barbarizou nas quadras gaúchas:

— Guardo no coração não só os títulos, mas principalmente as pessoas que fizeram parte daquilo, desde a direção até torcedores que acompanhavam o time. A cidade toda respirava futsal. Muitos clubes hoje só estão em um patamar muito alto porque se inspiraram no exemplo do que a Enxuta fez lá atrás.


Anos literalmente dourados

Três décadas sem a Enxuta deixam saudades de uma hegemonia caxiense que dificilmente se repetirá


Parte da geração que cresceu idolatrando o craque Falcão, maior nome do futsal brasileiro deste século, e que em 2013 viu o ídolo treinar com a seleção brasileira em Caxias do Sul, talvez nem saiba que a cidade já foi o principal palco do futsal brasileiro.

Em 1985, o empresário Paulo Triches fundava o clube que levava seu sobrenome – e também o de sua empresa – para a disputa do torneio citadino de futsal. No ano seguinte, uma das marcas da companhia passou a nomer o time, como forma de promovê-la. Ao longo de uma década, a Enxuta empilhou títulos, atraiu e revelou grandes craques e revolucionou o futebol de salão no Brasil.

– A Enxuta foi um marco no futsal do país. Muito em função das pessoas que a fizeram. Foi o primeiro clube no Estado a estabelecer treinos em dois turnos, uma rotina profissional que uma ou duas equipes no Brasil faziam – comenta Ênio Aguiar, que participou da Enxuta desde o início do clube, na coordenação da base.

Entre 1986 e 1996, foram seis títulos gaúchos e três nacionais (veja quadro). Uma hegemonia que até hoje rende frutos. O atual técnico da Seleção Brasileira, Serginho Schiochet, foi fixo da Enxuta. Jarico e Ney Pereira também são ex-técnicos da seleção que passaram pelo time vermelho, branco e preto.

É verdade que nem todos que escreveram as páginas mais brilhantes da Enxuta tiveram projeção internacional. Mas nem por isso serão esquecidos pelo que alcançaram. Autor do primeiro gol do ginásio do Enxutão, em 25 abril de 1986, em um amistoso contra o Inter vencido por 9 a 1 pela Enxuta, Gelson Scola tem até placa em sua homenagem em uma parede ao lado da quadra. Ele recorda que a maior parte do primeiro grande time, campeão gaúcho de 1986, era formado por caxienses, como Álvaro Tulica, Mauro Caxias, César Machado, Paulo Boff, Milton Gomes, além dele próprio e outros. Para Scola, que atuou até 1989 no clube, a saudade é comum a todos que participaram daqueles grandes momentos:

– Nossa equipe virou referência, graças à visão e ao investimento do Triches. Se hoje a cidade tem cerca de 40 escolinhas de futsal e ainda forma ótimos jogadores, isso se deve em muito à influência da Enxuta.

Mais do que um exemplo de sucesso nas quadras, a Enxuta também mostrou como a união em torno de uma agremiação pode alavancar um projeto. É o que destaca Jaime Walker, que presidiu o clube durante toda sua duração.

– Durante todo aquele período tivemos um enorme envolvimento comunitário. Principalmente em 91 e 92, quando os investimentos caíram muito e conseguimos criar uma comissão de pais dos atletas de base para manter o clube forte. Era bonito de ver – recorda Walker.

andrei.andrade@pioneiro.com
ANDREI ANDRADE

OS TÍTULOS DA ENXUTA

- Mesmo tento durado apenas 11 anos, a Triches/Enxuta

é a terceira maior campeã estadual, atrás

apenas da ACBF (10 títulos) e Inter (oito)

Seis títulos estaduais

- 1986 - Ainda com o nome Triches, contra o Grêmio

- 1987 - Primeira conquista com o nome Enxuta, contra o Grêmio

- 1988 - contra o Inter

- 1993 - contra a SER Itaqui

- 1994 - contra a Perdigão, de Marau

- 1995 - contra a Lagoense, de Lagoa Vermelha

Três títulos da Taça Brasil

- 1989 - Contra o Bradesco-RJ

- 1995 - Contra a Sumov-CE

- 1996 - Contra o Vasco da Gama, de Caxias do Sul

UM CONFRONTO HISTÓRICO

- Em 1996, Caxias do Sul viu seus dois clubes disputarem a final da Taça Brasil de Futsal, à época a principal competição nacional da modalidade. Enxuta e Vasco da Gama, equipe do bairro Pio X que se destacou entre o final dos anos 1980 e início dos 90, revelando atletas e abrigando ex-jogadores da Enxuta, decidiram o título em um confronto no Ginásio Pedro Carneiro Pereira, outro ícone já extinto do futsal caxiense. Com a vitória por 4 a 3, a Enxuta chegou ao terceiro título da competição.


Retomada distante da realidade

Por razões distintas, Ênio Aguiar e Gelson Scola consideram árduo o caminho para a região voltar a ser protagonista no futsal estadual e brasileiro. O último suspiro foi com a Cortiana/UCS/AFF, que disputou a Liga Futsal entre 2008 e 2010, até o fim da parceria com a UCS e o retorno do clube para Farroupilha. Ano passado, o Juventude retomou a equipe de futsal e conseguiu o acesso à Série Prata estadual deste ano, o que não deixa de ser um alento.

Para Ênio, a discussão começa pela necessidade de um ginásio adequado na cidade:

– Hoje não temos um ginásio adequado para um time profissional de alto nível. Começaria por isso, um ginásio público, com capacidade para 5 mil pessoas, quadras grandes, que seria importante também para outros esportes e outras atividades. Só com isso se abre a perspectiva de participação na Liga Futsal, necessidade básica para atrair patrocinadores fortes. O projeto existe, mas falta força política para o esporte na cidade.

Gelson Scola, que concorda quanto à necessidade de um ginásio, vai além e considera que Caxias se ressente da falta de dirigentes capazes de reerguer o futsal local:

– Há condições, mas é preciso que surjam dirigentes voltados para o futsal, com a visão e a mentalidade que o pessoal da Enxuta teve. Não será do dia pra noite, mas o caminho existe.


(Fonte: Pioneiro)
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