Caxias do Sul – Uma reunião antes do jogo com o Panamá, quando o Brasil arrancaria nas oitavas de final da Copa do Mundo de Futsal da Tailândia, foi decisiva para a conquista do título. Três jogos antes, ainda na estreia, Falcão havia atuado apenas cinco minutos e saído, sentindo uma distensão na panturrilha direita. Assim, o melhor jogador do mundo corria o risco de ser cortado, pois sua recuperação era incerta.
O encontro, que reuniu a comissão técnica e dirigentes da Confederação Brasileira de Futsal (CBFS), foi tenso. Uma parte do grupo considerava temerário manter o craque, sem a certeza de sua utilização, acreditando que o grupo poderia ser afetado. Havia dúvidas em relação à recuperação clínica e, se esta ocorresse, ao aspecto físico do camisa 12.
Então, todos os olhares se fixaram no médico, o Cidadão Caxiense Aloir de Oliveira, 60 anos. Com a experiência de três mundiais, dois deles vitoriosos, votou pela permanência de Falcão.
– Se fosse um médico que não conhecesse bem medicina esportiva ou não tivesse sido jogador, diante de uma lesão como aquela, vetava o jogador – lembra Aloir.
Ele preferiu confiar no jogador, que havia mostrado muita vontade de ficar, e na própria intuição, pois entendia que Falcão tinha estrela. E poderia ser decisivo, como foi. Foi definida a estratégia de que o ala jogaria sempre alguns minutos, que acabaram somando 37 nos sete jogos da seleção, mas decisivos.
Por essa situação, Aloir considera que este terceiro título foi o mais emocionante e gratificante, tanto no aspecto pessoal como profissional. Mais até do que o de quatro anos antes, no Rio, decidido nos pênaltis.
– Naquele, a gente tinha a obrigação de ganhar. Desta vez, eu senti um grupo muito unido, fechado mesmo. Tanto que os jogadores não quiseram nem falar de premiação. Só pensavam em ganhar.
Respeito – O mais antigo integrante da seleção, Aloir tem o máximo de respeito e carinho dos jogadores, tanto que boa parte do grupo que conquistou o quinto mundial Fifa frequenta seu consultório nas lesões sérias. Entre os que sofreram procedimentos cirúrgicos, o capitão Vinícius, que esteve ameaçado de encerrar a carreira antes da Copa.
Depois de operado e plenamente recuperado, ele escreveu uma dedicatória numa camisa e entregou a Aloir, que chorou. Assim como quando viu Falcão, depois de marcar o gol contra o Panamá, correr em sua direção para abraçá-lo.
– Antes do Mundial falavam que o Brasil estava com um grupo de jogadores velhos e machucados, como Falcão e Vinícius, mas eles deram a resposta.
Vinícius, que levantou o troféu, foi um dos grandes líderes, ao lado do goleiro reserva Franklin e do craque Falcão.
Coração grená – Após o jogo com o Panamá, em Korat, Aloir ficou surpreso quando ouviu seu nome ser gritado da arquibancada. Olhou e observou um torcedor com uma bandeira do Caxias. Se aproximou e tirou uma foto, que foi publicada no Pioneiro no último dia 14:
– Ele disse que estava em Bangcoc e foi de táxi a Korat para ver o jogo.
Essa bandeira teve algo de premonição. Na quarta-feira, um dia após o retorno à cidade e ao consultório, ele foi visitado por dirigentes do Caxias, pedindo o retorno ao clube no qual trabalhou por mais de duas décadas. Poucas horas depois, ao falar ao Pioneiro, disse que estava pensando, mas o coração...
– Sou torcedor e não posso dizer não ao clube e aos amigos.
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