Handebol, uma modalidade tipo exportação
- Eleição de Alexandra Nascimento como melhor do mundo expõe as contradições de esporte com clubes e federações pobres
RIO - A recente eleição, por fãs, especialistas, treinadores e atletas do handebol, da ponteira brasileira Alexandra Nascimento como a melhor jogadora do mundo, com 28% dos votos de pesquisa feita pela Federação Internacional de Handebol (IHF, em inglês), trouxe uma grande novidade para o público esportivo nacional. Visto como um esporte de colégio e que faz ter saudades das aulas de educação física, o handebol verde e amarelo já está indo muito mais longe do que podem alcançar olhares mais acostumados a admirar brasileiros no futebol, vôlei, natação, atletismo, ginástica, entre outros.
Embora pouco se saiba sobre isso em território nacional, o handebol do Brasil é tipo exportação, em especial no feminino, já que várias brasileiras atuam na Europa. Quando eleita, no dia 8, Alexandra Nascimento expressou a esperança de que tal conquista sirva para um novo crescimento da modalidade, visando aos Jogos Olímpicos do Rio, daqui a três anos. Como ela própria advertiu, o handebol revela talentos, em especial nas escolas, mas ao chegarem a uma certa idade, muitos optam por outros esportes ou o deixam, porque precisam trabalhar para se manter.
- Mas creio que estejamos começando (a maior profissionalização) devagar. Estão nos respeitando mais. Ter uma brasileira entre as melhores é muito importante - disse ela, que defende o Hypo Niederösterreich, da Áustria, um dos mais fortes da Europa.
Não tão conhecida no Brasil, Alexandra, de 31 anos, já tem respeitável currículo internacional. Em 2011, no Mundial em São Paulo, em que o Brasil terminou em quinto, ela fora artilheira, com 57 gols em 78 arremessos, com 73% de aproveitamento, além de ter sido a melhor ponta-direita dos Jogos de Londres-2012 e a quarta na artilharia da mesma Olimpíada, com 37 gols e 67% de aproveitamento.
Nota: A APAHAND/UCS/Fátima/Caxias teve, nos 3 últimos anos, quatro atletas transferidas de Caxias do Sul para a Europa. Prova que o trabalho realizado no Brasil não deixa a desejar em relação as equipes europeias, mas o investimento financeiro é, de longe, o fator fundamental para essas atletas não permanecerem por aqui.
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Federação sem sede ou telefone
O sucesso brasileiro no exterior foge à lógica. O handebol do Rio, por exemplo, também sofre com a falta de estrutura e de recursos financeiros. Na presidência da Federação de Handebol do Estado do Rio de Janeiro desde 2009, Luiza Elaine do Nascimento Brandão revelou números estarrecedores.
- Os clubes não pagam mais mensalidades. Pagam taxas administrativas, que servem para cobrir custos de eventos, arbitragem. A Federação não tem telefone, e nossa sede, no Maracanã, está fechada temporariamente, devido às reformas do estádio. A Federação não tem empregados, e nós dirigentes é que fazemos tudo. A receita da Federação gira em torno de R$ 200 a R$ 300 por mês - relata a dirigente carioca. - E quando um atleta (carioca) é transferido para outro estado, o clube que o contrata paga uma taxa de transferência à Federação do Rio.
A presidente Luiza Elaine comenta que no campeonato não há qualquer clube de camisa. O último foi o Fluminense, até 2009. A modalidade vem se espalhando por Campos, Pati do Alferes, Resende, Volta Redonda, Niterói. Partidas têm sido na Vila Olímpica de Duque de Caxias, na Vila Olímpica Manoel Tubino, no Mato Alto, e no Mauá.
- No adulto masculino, temos cerca de cinco times, e no feminino, é imprevisível. Não posso dizer que haja clubes trabalhando no feminino adulto. Já na base, há projetos do Ales, da Vila Olímpica Manoel Tubino, no Mato Alto, e do Mauá, de São Gonçalo - diz Luiza.
De acordo com o presidente da Confederação Brasileira de Handebol (CBHb), Manoel Luiz de Oliveira, o país é o 14º do ranking mundial da Federação Internacional de Handebol, que reúne 178 nações.
- Ter uma não-europeia eleita como a melhor do mundo é como se fosse a conquista de uma medalha, pela motivação, entusiasmo e exposição na mídia. Temos de transformar estas oportunidades em ganho efetivo, e que não seja algo esporádico - comentou o dirigente, acrescentando que a presença de tantos jogadores no exterior é necessária para o crescimento técnico dos atletas e consequentemente da seleção. - O handebol era visto como um esporte de colégio, mas hoje é capaz de lutar por medalhas olímpicas e em mundiais. Nós incentivamos os jogadores a atuarem no exterior, olhando o modelo do vôlei, que é o que mais tem contribuído com as experiências positivas para os demais esportes.
CT de R$ 14,5 milhões
Com patrocínios dos Correios e o Banco do Brasil, a CBHb trabalha para poder sonhar com um pódio em casa, em 2016. Até agosto, em São Bernardo do Campo, a entidade pretende inaugurar seu Centro de Treinamento, com dois ginásios, capacidade para receber simultaneamente quatro seleções e acomodações para 135 pessoas. As instalações estão sendo construídas com verba de R$ 12 milhões do Ministério do Esporte e R$ 2,5 milhões da prefeitura municipal. Ainda no que diz respeito à estrutura, a entidade vem trabalhando para organizar encontros anuais com 120 professores, em centros regionais, possivelmente no Amazonas, Pará, Pernambuco, Mato Grosso, Espírito Santo, Minas Gerais, Baixada Fluminense, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. As seleções dos núcleos irão se reunir e daí sairão as seleções de base. A CBHb reúne 2.435 clubes, nem todos profissionais.
Graças ao recente contrato com a Rede Globo e Sportv, até 2020, o presidente Manoel Luiz quer fortalecer as ligas nacionais, com sete times cada, para que cada uma tenha 12 equipes. No ano de 2016, sim, a ideia é repatriar os jogadores atualmente no exterior.
- Os números todos indicam que há mais chances de medalha no Rio, em 2016 para o feminino. Mas acredito muito no masculino, e tenho fé em que as duas equipes vão medalhar em 2016 - imagina Manoel Luiz, que contratou para a seleção masculina o espanhol Jordi Ribera, e para a feminina, o dinamarquês Morten Soubak.
No masculino, a seleção adulta foi eliminada do Mundial da Espanha nas oitavas de final. Perdeu para a Rússia por 27 a 26. Na pior hipótese, a equipe ficará em 15º, que será sua melhor colocação.
Fonte: O Globo Esportes