Tennis na Comunidade: O esporte revelando cidadãos
Lucas Demeda
Especial para a Folha de Caxias
O tênis é um esporte elitizado. Custos de equipamento, raros espaços para a prática e até questões culturais comprovam a afirmação. Mas Vinícius de Freitas Flores, 24 anos, não se importou com nada disso quando ousou transpor essa crença.
Professor de tênis em uma academia, ele dedica dois dias da semana para treinar gratuitamente cerca de 30 crianças e jovens carentes de Caxias do Sul, no Complexo Esportivo da Zona Norte.
O projeto está completando um ano e seus beneficiários já colecionam troféus. Desde que começou a praticar o esporte, o estudante Denis Pereira Lima, 16, disputou dez torneios regionais, venceu sete e ficou em segundo lugar em dois. “Era um esporte que eu nunca tinha visto, fui ver como era e acabei gostando”, relata.
Intitulado “Tennis na Comunidade: Revelando Campeões”, a iniciativa teve início em 2012, na academia em que Vinícius trabalhava, com verba de uma empresa da cidade. Seis meses depois, porém, o financiamento foi interrompido.
Após perceber o potencial dos alunos, o professor não podia deixar o projeto terminar. “Ficamos sem lugar, mas eu comecei a procurar e o Carlos (Alberto Rodrigues, coordenador do Complexo), disponibilizou o ginásio para nós”, lembra.
Desde então, Vinícius se desdobra para atender os jovens da comunidade, que treinam nas segundas, quartas e sábados. “A maioria dos recursos que a gente tem, raquete, bolinha, tênis, foram oriundos de doação, e eu também comprei alguma coisa”, conta.
Apenas para a delimitação da quadra improvisada, feita com fita crepe, Vinícius gasta cerca de R$ 100 mensais. Mas a recompensa supera de longe as dificuldades.
“Para mim, o maior prazer é trabalhar com crianças carentes, trabalhei o ano inteiro de graça. Com seis meses de treino eles já estavam ganhando do pessoal com cinco anos de prática. É um esporte difícil, de técnica complicada, mas eles vão superando os limites deles”, frisa.
O resultado da dedicação – O tamanho do que foi conquistado com tão poucos recursos no Complexo da Zona Norte surpreende. Além de Denis, que venceu três de quatro torneios que participou em 2013, entre eles o Circuito de Tênis da Serra Gaúcha, a estudante July de Morais Machado, 15, também ensaia uma carreira campeã.
Ela venceu o Circuito feminino, competindo com participantes de Caxias, Bento, Farroupilha, São Marcos e Flores da Cunha, superando uma oponente com 35 anos de treino na final.
“Para mim era só uma brincadeira”, conta July. Não mais. Agora, ela pensa em seguir carreira no esporte. Assim como Denis, que se espelha no tenista suíço Roger Federer.
Ele ocupa a 15ª posição em sua categoria no ranking estadual. July, o 10°. E o professor promete mais. “É que eles não disputaram muitos torneios estaduais. Esse ano a ideia é começar a jogar em torneios da Federação (Gaúcha de Tênis)”, anuncia.
Obstáculos
Mesmo com ótimos resultados, o projeto é uma sombra do que poderia ser, caso tivesse investimento. Alguns alunos não tem vestimenta apropriada para jogar. “Alguns não tem tênis e fardamento. Fizemos contato com empresas de uniformes, mas o patrocínio nunca foi para frente”, conta Carlos Alberto Rodrigues, 37, coordenador do Complexo Esportivo da Zona Norte.
A dificuldade para pagar a taxa de inscrição dos torneios regionais de R$ 60, também é corriqueira, segundo o Vinícius. “A gente faz um torneio interno para ver quem vai competir. Não tenho condições de pagar para todos”, diz.
A expansão do programa também é difícil pela falta de verba. “Não tenho como deixar meu emprego para ficar só aqui. Meu o horário é limitado”, lamenta Vinícius. “Se abríssemos as portas, teríamos mais de 60 alunos”, calcula Carlos.
Para ajudar - Quem quiser contribuir com o projeto Tennis na Comunidade pode entrar em contato com o Complexo Esportivo da Zona Norte pelos telefones (54) 3215-5838 ou (54) 9929-4061.
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